Greve dos caminhoneiros expõe o quanto o país abandonou as ferrovias

 G1

Edição do dia 06/06/2018
06/06/2018 21h20 - Atualizado em 06/06/2018 21h21

Decadência começou quando ferrovias foram privatizadas no fim dos anos 90. Centro-Oeste de SP já teve o maior entroncamento ferroviário do país.

Quando se vê o estrago que a greve de caminhoneiros deixou na economia do Brasil, é muito comum lembrar que o país abandonou as ferrovias, e como esse erro saiu caro.

É um cenário desolador. Em Bauru, milhares de vagões, pedaços de locomotivas e restos de carcaças de trens enferrujam sobre os trilhos. A água da chuva se acumula nos vagões que viraram criadouros do mosquito da dengue.

"Eu peguei dengue e minha esposa pegou antes de mim. Aconteceu também com a minha mãe, com meus avós, tudo na mesma época", conta o microempresário Richard Tenedine.

Em Avaí, há mais de um ano, a linha férrea está sendo engolida por uma enorme erosão. O transporte nesse trecho está interrompido.

O Centro-Oeste paulista já teve o maior entroncamento ferroviário do país. Por Bauru passavam as ferrovias Paulista e Sorocabana, que ligavam o interior ao Porto de Santos. Já a Noroeste do Brasil, com mais de 1.600 quilômetros, interligava o estado de São Paulo à Mato Grosso do Sul. A Noroeste, fazia também, a integração do Brasil com os países vizinhos.

A decadência do setor começou no fim da década de 1990, quando as ferrovias foram privatizadas e passaram pelas administrações de várias empresas e grupos. Desde de 2015, a Rumo Logística administra o trecho paulista. A concessão vai até 2028. A Agência Nacional de Transportes Terrestres já aplicou 97 penalidades contra ela por descumprimento de cláusulas do contrato. De acordo com o Sindicato dos Ferroviários, a empresa não cumpriu as metas de investimentos no setor.

"Daquilo que foi privatizado, 60% da malha ferroviária está abandonada. É o nosso caso”, diz Roberval Duarte Place, coordenador-geral do Sindicato dos Ferroviários.

A Rumo Logística afirma que investiu mais de R$ 6 bilhões em equipamentos e novas tecnologias, e que pretende ampliar a capacidade da malha paulista em 150%. Disse ainda, que os vagões mostrados estão devidamente alocados em área operacional da ferrovia, aguardando destinação, que toma todos os cuidados para evitar transtornos à população, e que o excesso de chuvas provocou a erosão no trecho em Avaí, onde não há circulação de trens, segundo a empresa, por falta de contratos comerciais.

"Ficamos com trens só para transporte e em linhas rentáveis. Aquelas que não eram, como não teve nenhum incentivo, nenhuma estratégia, foram abandonadas", explica o economista Reinaldo Cafeo.

Em muitas cidades, as estações ferroviárias também estão caindo aos pedaços. Mas algumas iniciativas tentam preservar um pouco da história. Em Pederneiras, a estação foi reformada e virou ponto turístico.

"Ela é muito importante para manter viva a memória e a história do município. A estação ferroviária foi um marco para o interior do estado de São Paulo”, conta Tássia Martini, diretora de apoio ao Turismo de Pederneiras.
Fonte G1 Jornal Nacional

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